Thursday, December 06, 2012

Texto Absolutamente Indizível

Há que ser frontal!
Neste sentido, gostaria de afirmar que na justa medida dos factos tudo parece ocorrer relativamente bem.

Porém, e talvez para perceber melhor, deve-se evidenciar que todavia é uma questão que merece ponderada análise.

No entanto, há que esclarecer se as garantias acima referidas, não oferecem controvérsias. Pois se tal ocorrer, há que procurar averiguar as dúvidas conceptuais que efectivamente surjam, pois considero o esclarecimento absolutamente fundamental.

Posso alargar este debate à questão da omissão. Podem haver circunstâncias que, sendo fidedignas, causem algum desconforto, quando não confrontadas com as realidades mencionadas anteriormente.

À semelhança do que já ocorria antes, reafirmo a minha total confiança na informação correcta e na defesa da linguagem clara e precisa, sem margem para dúvidas ou suposições, sem nós de linguagem, sem discussões nem polémicas oscilantes.

Não se justifica a indeterminação essencialista, pois para discutir significados obliquamente paradoxais, ou assistir à flutuação entre posições, cuja realidade seja premiada de uma contradição intrínseca, basta direccionar-se para a política.

A excepcional incongruência dos textos e discursos consegue destabilizar de modo irredutível e irrefutável qualquer alma que compreenda minimamente a linguagem.

Em suma, simplificadamente este texto transmite uma mensagem explícita que visa estruturar o actual panorama demagogo. Qualquer semelhança deste texto com a ficção é portanto pura realidade.

Caso o leitor tenha conseguido experimentar algum tipo de frustração na leitura deste texto absolutamente indizível; se conseguiu sentir a sua irredutibilidade face à hipotético-multiplicidade discursiva; se sentiu o efeito cáustico da incompreensão acompanhado de um ligeiro pânico… pode tranquilizar-se por ser uma pessoa na sua imanente e perfeita sanidade mental.

Carla Trindade 08-02-2011

Inspired by
Guimarães Rosa quote: ‘O escritor deve sentir-se à vontade no incompreensível’
Mário Quintana quote: ‘A imaginação é a memória que enlouqueceu’

Monday, December 03, 2012

Em Tua Memória


Lá para onde foste, deve estar toda a gente feliz por te receber, de braços abertos a sorrir para ti contigo e a afogar-te em abraços.

Por aqui não.
Sentimos a tua falta.
 
Esse teu dom maravilhoso, faz com que cada palavra tua fique para sempre marcada em nós. Que grande pessoa tu és! Das lindas, daquelas que, como diz Lobo Antunes, transmitem 'sinais interiores de riqueza'. 

Agora vagueio pelas tuas mensagens e releio e releio e releio, num ciclo que gostaria fosse eterno, renovado a cada semana (uma mensagem nova por semana chegava). 

Ainda ouço a tua voz doce, ainda vejo o teu sorriso, ainda sinto a simpatia genuína nos teus comentários e a esperança no teu olhar.

Espero que te recebam com o melhor... porque é o mínimo que tu mereces. 

Que seja sempre Primavera. Que guardem para ti o maior quarto do castelo, com vista para o mar, para acordares todas as manhãs com o bater das ondas na falésia e de vez em quando acordares com o nascer do Sol e os pássaros a cantarem na tua janela.

Por aqui choramos. Choramos-te. 
Ao menos as tuas lágrimas e a tua dor terminaram.

Fecho os olhos. Guardo o teu sorriso.
Até Sempre minha Querida Alexandra!

Monday, November 26, 2012

Encosta ao meu ombro

Muitos casacos, malas, mochilas e chapéus-de-chuva... quase tantos quantos os passageiros prevenidos do autocarro carregado em dia de muita chuva.

Primeiro nunca mais chegava. Depois, lá apareceu, já muito cheio e para entrarmos empurrámos tanto até encontrarmos o espaço necessário a cabermos todos, condescendentes uns com os outros, já que chovia tanto.

Na paragem seguinte, saindo uns, o que permitia mais ou menos gerir o espaço e deixar entrar mais umas alminhas encharcadas, para terminar-lhes o sofrimento. E assim fomos sendo um tanto ou quanto humanos.

Até que, a jovem moça que se segurava numa daquelas pegas do tejadilho, aproveita uma travagem, e se deixa literalmente cair para cima do moço giro que ia atrás dela.

Giro, de casaco azul escuro, barba por fazer, cabelo castanho, moreno, e elegante, sorri para ela, como que entendendo que ela não podia fazer nada face à inércia... achei giro os sorrisos entre ambos e o encolher de ombros, sem nenhuma palavra, como que a anuírem mutuamente o sacrifício feliz daquele momento.

5 minutos depois, já a inércia tinha desaparecido e a moça lá continuava feliz encostada ao rapaz. O autocarro já direito e já com espaço e ela simplesmente encostada. Foi lindo ver aquele mexer de ombro dele, ainda delicado, quase que a dizer 'acorda'.

Dizem os mais modernos que isto de encostar é bom em qualquer lugar e com qualquer um.
Mas o moço é que não vai na cantiga do 'encosto à primeira vista'. Lá teve certamente a rapariga de ir procurar encosto noutro lugar. 

Já não se faz química como fisicamente!

Monday, November 19, 2012

Os Bons Filmes

Posso ir ao cinema ver um excelente filme e ter ao lado pessoas a conversarem alto, a atenderem telemóveis, a escreverem sms's que iluminam toda a sala, ou pior a devorarem pipocas numa daquelas cenas depressivas do fim do mundo de 'Melancholia'...

É mau! Por mais que se queira, não se entra na mood do filme.

Porém, posso estar a rir quase sozinha, numa sala quase vazia, como quando fomos ver Scoop no Quarteto... by the way o último filme que vi no Quarteto, esse grande Cinema!
E faz, para mim, muito mais sentido ver um filme assim... com o mano e a prima ao lado!

A verdade é que um grande filme, pode ser uma desilusão quando comentamos com o(a) nosso(a) companheiro(a) de cinema dessa noite/ tarde, e a resposta é uma daquelas em que percebemos que não gostam porque não estão a perceber nada!

Um bom filme, será sempre um bom filme!...
Mas é definitivamente melhor quando é muito bem partilhado!

Friday, November 16, 2012

Di fazê chorá ais pédras da cauçada!

(Este teisto devi sê lido em brasileiro)

Seista pela manhã, stava subindo até às Amureirás quando me déparei com o diálugo irritádo de um sinhô que trabalháva, colocando as pedrinhas da cauçada - "a senhora não vê o que o cão está a fazer?" (ele era português)

O cãozinho estava fazendo xixi pr' ais pedrinhas soutas que o sinhô mais tardi iria pégar p'ra colocar no chão.

O cãozinho não sabia e mijou ali, mas a empregada da dona do cãozinho rêspondi imediata: "O sinhô disculpe que eu não vi estava ao téléfone, viu?"

Mais u hómêm irritádo acrescentou - "está bem, mas tire o cão daí mulher!" porque a sinhora nem séquê puxava a coleira do bicho e portanto deixava acabá as nécessidadis do bicho em cima das pédrinhas que o sinhô ia ter de colocá na cauçada que todo o mundo sabi, é feita à mão!

Ele há seistas de mérrda meismo, não é?!

Tuesday, November 06, 2012

O Avô e o Som das Estrelas

Filhotes de andorinhas a piarem nos ninhos junto à minha janela, acordaram-me hoje... tem sido assim todos os dias desde que cheguei.

Por entre a fresta das persianas o Sol procurava de novo invadir-me o quarto... abri-lhe a janela e deixei-o entrar.

Cheira tão bem aqui... o ar é tão puro.

Ontem, pouco antes de adormecer, aproveitei a rua pouco iluminada e estive longamente embevecida por este céu muito escuro a contemplar a miríade de estrelas e as estrelas cadentes... e a inebriar-me com os sons da noite.

Recordei a minha infância na terra do meu pai. Fez 30 anos que aleguei, muito segura de mim que, no jardim da casa da terra, as estrelas faziam barulho sempre que cintilavam. Mas para frustração minha o avozinho não escutava nada... e deve ter revelado o argumento aos meus pais que, preocupados, vieram à vez averiguar o que se passava comigo e com as estrelas. Até que por fim o avô percebeu, sorriu e ensinou-me que os sons que eu ouvia eram os grilos.

Sabem porque eu gostava tanto do meu avozinho?
Ele ouvia-me...
Naturalmente, com tanta dedicação, acabava por compreender-me. E eu nunca o vou esquecer por isso.

Hoje sei que só compreendemos as pessoas que ouvimos...
E que só ouvimos as pessoas por quem nos interessamos.


16 de Agosto de 2010
Crónicas de Carla
by Carla Trindade

Monday, November 05, 2012

Gato do Campo

É branco diz a tia, mas passa a correr, não lhe liga nenhuma. Chama-o 'bichano' um nome comum. Eu acho que ele não gosta de nomes vulgares.

Triste, ela diz que gostava de o convencer a ficar pelo terreno, ou mesmo em casa. Era bom para um gato destes herdar uma casa de campo, ter o melhor de dois mundos. Mas a liberdade... ah que bom que é ser livre!

'É selvagem', dizemos nós, 'vai ser difícil de convencer, mas com paciência, muita paciência vais conseguir.'
A tia acrescentou logo alguma comida para se conseguir uma boa negociação.
Claro, os bichos não são estúpidos. Se para os humanos 'não há almoços grátis', para os gatos não há mimos sem almoços.

Ao principio fez-se difícil, a comida ficava lá, a tia a ver e ele não aparecia. Comia de madrugada o envergonhado. Ninguém o via. Sabia-se da sua existência ao longe no escuro da noite, à luz da lua.

Passados dois meses e o gato já come a ver a tia.
Afinal, a comida é mesmo um grande poder de negociação. Em época de crise não se pode ser muito esquisito. Até um gato destes se deixa render.
A tia já está encantada. Sabe que não se pode mexer muito que o tipo dispara numa corrida que mais parece um gato cor de burro quando foge!...

Mas já espero tudo!
Dou dois meses para sua excelência perder o que lhe resta de vergonha, entrar na cozinha, sentar-se resfolgado no lugar do chefe de família, colocar as patas traseiras em cima da mesa, e ler o jornal enquanto aguarda pelo jantar!...

Se for preciso até ladra ao cão, e bate as patas para a tia se apressar.
O bichano tem uma noite pela frente para ir ver e miar a todas as meninas... e escolher por fim a mãe dos seus filhos... não tem tempo a perder.

Gatos... andamos cá para os servir! Mas sabe bem ouvir e sentir o ronronar de satisfação.